Desde 2015, a partir de uma iniciativa da UNESCO e ONU, comemora-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência em 11 de fevereiro. As mulheres foram excluídas da educação formal por muitas décadas, sob justificativas pseudobiológicas, relacionando o corpo feminino a menor capacidade intelectual e cognitiva.
Até hoje, a maior carga de serviços domésticos e cuidados familiares deixa as mulheres em desvantagem no meio acadêmico, gerando disparidades não só no desenvolvimento de estudos e publicação de artigos, mas também na representatividade entre pesquisadores(as), a qual é crucial para uma discussão mais complexa dos assuntos e diversidade dos temas escolhidos para estudo.
Com isso, a disparidade entre os gêneros na carreira e produção científicas é uma realidade. Apesar de, atualmente, o número de mulheres que consegue se formar na faculdade e mestrado ser equiparável ao de homens, continuam sendo minoria nos doutorados e pós-doutorados. Dessa forma, em 2015, somente 28% dos pesquisadores do mundo eram mulheres. Homens publicam mais artigos, têm mais autorias principais e são mais citados que as mulheres: durante 2014, dentre os autores mais citados, somente 13% eram mulheres – com grande variação de acordo com a área de conhecimento, desde 3,7% em engenharia até 31% entre as ciências sociais.
Como no resto do mercado de trabalho, ser homem é um fator preditivo positivo para avançar mais rápido na carreira e também para tornar-se o Pesquisador Principal de estudos, mesmo corrigindo de acordo com vieses, como publicações realizadas – alcançando, assim, salários mais altos que as mulheres. Foram notadas também diferenças de gênero, com viés positivo para os homens, na probabilidade de contratação, salários iniciais mais altos e fundos de pesquisa.
Um estudo descreveu o “Efeito Matilda”, em que autoras mulheres são associadas com menor qualidade percebida e interesse pela publicação, em relação à autoria masculina. Mulheres têm maior probabilidade de passar por interrupções na carreira e deixar a vida acadêmica por fatores pessoais, como licença-maternidade. Talvez por isso, pesquisadoras especializam-se menos que pesquisadores, podendo esse ser um fator que leva à menor produtividade e progressão na carreira.
Gender in the Global Research Landscape
A Elsevier lançou em 2017 o relatório “Gender in the Global Research Landscape”, um panorama da pesquisa mundial ao longo de 20 anos, em 12 países e regiões. Percebe-se que em 9 dessas regiões (EUA, União Européia, Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Brasil, Dinamarca, Portugal), entre 2011 e 2015, mais de 40% dos pesquisadores eram mulheres, o que representa uma melhora do cenário em 1996-2000, onde tal cifra só era realidade em Portugal. Entretanto, a representatividade feminina varia muito de acordo com o campo de pesquisa: mulheres estão mais presentes em ciências biológicas e da saúde, mas são raras nas ciências físicas, da computação e matemáticas, relacionadas com a criação de tecnologias. Em decorrência, apenas 14% de aplicações para patente envolviam uma inventora entre 2011 e 2015 – entre 1996 e 2000, somente 10% dos pedidos de patente envolviam mulheres entre os solicitantes.
Outra informação interessante é que mulheres, apesar de colaborarem mais que homens domesticamente, envolvem-se menos em colaborações internacionais, e deslocam-se menos em viagens para trabalhar em suas pesquisas – apesar de as citações de maior impacto geralmente se relacionarem com pesquisadores “transitórios”, aqueles que trabalham internacionalmente por um período menor que 2 anos.
Por outro lado, pesquisas sobre gênero têm crescido na última década. Tópicos como feminismo, estereotipia de gênero, identidade de gênero, têm sido mais frequentemente citados em publicações. Na verdade, a pesquisa em gênero tem crescido mais rápido que a pesquisa científica como um todo.