A manifestação, ocorrido na tarde de sábado, 4 de dezembro, na praça Saldanha Marinho, foi convocada pelos diversos movimentos de mulheres, sendo alguns ligados a partidos e sindicatos, tanto em Santa Maria, como no restante do Brasil, e representou o fechamento dos protestos contra o governo de Jair Bolsonaro, iniciados ainda no primeiro semestre deste ano, e que tiveram como mote inicial a defesa da #vacinaparatodos.
A palavra de ordem entoada pela diretora da Sedufsm, a professora Márcia Morschbacher, “Ninguém aguenta mais. Fora Bolsonaro e seus generais”, estabeleceu uma relação direta com as políticas destrutivas do atual governo. Ela citou que ninguém aguenta mais o aumento do custo de vida, do desemprego, da fome e dos diversos tipos de violência. Márcia ressaltou que as ações do Executivo federal têm gerado a destruição das políticas públicas e, que, se não houver mobilização, tende a piorar caso sejam mantidos os cortes orçamentários ou se for aprovada a reforma administrativa (PEC 32).
Abaixo o machismo, o fascismo e a fome
A Coordenadora Geral da Assufsm Loiva Chansis destacou o papel das mulheres na luta cotidiana em favor de uma educação de qualidade, de uma saúde pública e gratuita, mas, também, contra o machismo e o fascismo que, segundo ela, foram exacerbados desde 2019, quando assumiu o governo Bolsonaro. A dirigente da Assufsm fez questão de enviar um abraço aos familiares de vítimas da tragédia da boate Kiss, que estão na tenda próxima ao Calçadão, ou acompanhando o julgamento em Porto Alegre, e que seguem clamando por justiça quase nove anos após o incêndio.
“O ato foi de extrema importância para que se pudesse ver o protagonismo das mulheres perante a sociedade. Para que pudéssemos colocar toda nossa força e protagonismo de lutas durante anos de existência. No final do ato, pudemos soltar balões brancos em solidariedade às mães do caso Kiss e também em sinal de protesto, de busca pela justiça e acolhimento às famílias”, retrata Loiva, em entrevista para a Assessoria da Assufsm.
A líder comunitária do bairro Nova Santa Marta (que completa 30 anos dia 7 de dezembro), Elisa Pinheiro, chamou a atenção durante o ato para o drama vivido pela população: mães, filhos e pais que passam fome na atual conjuntura do país. “Todos os dias temos pessoas batendo na nossa porta pedindo comida”. Contudo, no entendimento dela, é preciso “perdoar quem votou nesse traste”, se referindo ao presidente Bolsonaro. “Não podemos nos deixar enganar novamente e votar errado”, frisou. “Ele, não”, finalizou.
Cultura na praça
A manifestação deste sábado também abriu espaço para expressões culturais. A jornalista Melina Guterres apresentou vários poemas durante o evento, sendo um especialmente dedicado à Marielle Franco. A então vereadora (Psol), socióloga e militante feminista, foi assassinada em 14 de março de 2018, na cidade do Rio de Janeiro, mas o crime até hoje não foi completamente elucidado.
Foram apresentadas algumas danças de roda, com a presença marcante de estudantes indígenas ligado ao Yandé, coletivo que atua junto à UFSM, que ajudou nas coreografias. A militante da Assufsm, Natália San Martín (foto acima), também deu sua contribuição. Com sua voz e o violão arriscou a canção de Humberto Gabbi Zanatta e Francisco Alves, mas consagrada na voz de Dante Ramon Ledesma:
“Talvez um dia, não mais existam aramados
E nem cancelas, nos limites da fronteira
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão
Numa só voz, desde o mar as cordilheiras
A mão do índio, explorado, aniquilado…”.
“O ato foi organizado de forma muito coerente e necessária, porque o que já prevíamos aconteceu, em 2018, onde gritamos por #ELENÃO e agora bradamos por #BolsonaroNuncaMais. Estamos vendo os retrocessos que estão acontecendo, com inúmeros prejuízos, principalmente para as mulheres, com o governo desse presidente. Além dele ter rebaixado o ministério das mulheres, podemos ver o aumento do desrespeito às políticas de gênero, agora está ameaçado com esse governo”, desabafa a TAE Natália San Martin, em entrevista para a Assessoria da Assufsm.