Com 26 votos favoráveis e 20 contrários, o Conselho Universitário da UFSM aprovou a minuta de resolução que regulamenta os cursos de pós-graduação lato sensu, permitindo que a instituição cobre taxas e mensalidades pela oferta de especializações, na manhã desta sexta-feira, 17 de dezembro. Entidades representativas dos segmentos da universidade protagonizaram uma mobilização contra a aprovação de tais cobranças, considerando que elas colocariam em xeque o caráter público e gratuito da UFSM.
“Somos contrários à cobrança por tais cursos, sendo eles eventuais ou não. Cursos de especialização são uma maneira excelente de a universidade responder às demandas formativas pontuais da sociedade, viabilizando, na maioria das vezes, o início da trajetória na pós-graduação, que se estende para o mestrado e o doutorado. Por serem tão importantes, entendemos que é do caráter e da função da universidade pública oferecê-los gratuitamente. Todos e todas devem ter acesso independente de condição financeira a partir de um processo seletivo cada vez mais justo e amplo”, disse o relator do pedido de vista, Luiz Eduardo Boneti, integrante do DCE. Ele havia solicitado vista do processo na sessão do Consu ocorrida em 26 de novembro.
Daniel Pla, docente do departamento de Artes Cênicas da UFSM, foi um dos conselheiros que se manifestaram contrários à aprovação da minuta. Para ele, o problema não é necessariamente a universidade estabelecer diálogos com o mercado, mas começar a operar segundo as lógicas do mercado.
“Vejo que está havendo uma mudança de pensamento a respeito do papel da universidade pública. É uma visão um pouco mais pragmática e voltada ao lucro. [Falou-se] na questão dos insumos, na questão de que a Capes não investe nas especializações, mas não se pensou que é preciso então fazer um movimento para que isso mude. O que se pensou é que temos que criar cursos pagos para que de alguma forma se tapem esses furos que temos. Foi falado que a universidade tem professores de excelência e que esse é um nicho de mercado que pode ser atendido. Vemos que a questão comercial começa a ganhar destaque. Não se pensa que possamos fazer parcerias com prefeituras e empresas e oferecer esses cursos de maneira gratuita – me parece que isso seria o mais próximo daquilo a que a universidade pública se propõe”, comenta Pla.
Para o docente, “no momento em que eu coloco um curso pago, estou fazendo uma diferenciação, por um critério financeiro, entre as pessoas que podem e as que não podem cursar. Eu não vejo problema no mercado, eu vejo problema em a nossa universidade passar a se gerenciar por um pensamento privado e que a gente comece a se pautar por critérios econômicos típicos das empresas privadas”.
Pla diz que o diálogo e as parcerias com o mercado deveriam ser utilizadas para justamente ofertar cursos gratuitos. “[…] que a gente tenha uma relação boa com a iniciativa privada, e que essa relação possa ser utilizada de forma saudável para que possamos ampliar a oferta de oportunidades para a população. E ampliar a oferta, para mim, está diretamente relacionado à gratuidade. Temos de achar formas de chegar nos grupos e nas pessoas, e pensar o que é uma universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada”, conclui.