Mais de 33 milhões de pessoas no país não tem o que comer. É o que revela o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, lançado nesta quarta-feira (8). São 14 milhões de novas pessoas em situação de fome em pouco mais de um ano. No final de 2020 eram 19 milhões. É um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018.
O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990, segundo o levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). As estatísticas foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12,7 mil domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas, mais uma vez, pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A edição recente da pesquisa mostra que 58,7% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau. Em números absolutos, são 125,2 milhões de brasileiras e brasileiros sem o acesso regular e permanente a alimentos. São três estágios: Leve (28%), que é a incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida; Moderada (15,2%), quantidade insuficiente de alimentos; e Grave (15,5%), que é a privação no consumo de alimentos e fome. A pesquisa anterior, realizada no final de 2020, mostrava que 55,2% da população brasileira viviam com insegurança alimentar, o equivalente a 116,8 milhões de brasileiras e brasileiros.
No Brasil de 2022, apenas 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação – ou seja, estão em condição de segurança alimentar. Os outros 6 lares se dividem numa escala, que vai dos que permanecem preocupados com a possibilidade de não ter alimentos no futuro até os que já passam fome.
Desigualdade regional
A insegurança alimentar segue como uma questão que atinge as regiões do Brasil de forma desigual. No Norte e no Nordeste, os números chegam, respectivamente, a 71,6% e 68% – são índices expressivamente maiores do que a média nacional de 58,7%. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média nacional é de aproximadamente 15%, e, do Sul, de 10%.
Percentualmente, a situação das e dos habitantes em área rural é mais grave, com a insegurança alimentar (em todos os níveis) presente em mais de 60% dos domicílios. Destes, 18,6% das famílias convivem com a insegurança alimentar grave (fome), valor maior do que a média nacional. A fome atingiu até quem produz alimento, estando presente em 21,8% dos lares de agricultoras e agricultores familiares. Já o contingente de famintas e famintos em área urbana é de cerca de 27 milhões (15%) nas cidades do Brasil.
Assim como na primeira edição do inquérito, a restrição de alimentos em qualquer nível é mais presente em 65% dos lares chefiados por pessoas pretas ou pardas. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%, em pouco mais de um ano. Já nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%.
A fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos – de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atingiu 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.
Texto: Portal Andes
Foto: PrintScreen do Relatório sobre Inquérito Nacional da Insegurança Alimentar