Na tarde de quinta-feira, 08 de novembro, a Assufsm promoveu a segunda atividade da programação integrada do Mês da Consciência Negra 2018 (ver programação completa aqui). A roda de conversa “Religião Afro-Brasileira” que aconteceu no espaço externo da Biblioteca Central, contou com a participação do Babalorixá de Oxum Docô, Cleocir Guimarães Cristino; da Iyá Sandra de Oxum, Sandra Aires; do Babalorixá de Oxalá, Henrique Silva e do Babalorixá de Ogum, Ronaldo Barbosa. A coordenação da mesa foi dos técnico-administrativos em educação Eloiz Cristino e Valdemir Rodrigues.
As religiões de matrizes africanas nasceram dentro das senzalas no Brasil e foram brutalmente reprimidas. Os casos de violência e agressão contra casas e praticantes de religiões de matriz africana têm aumentado de forma assustadora em todo o país, nos últimos anos. O técnico-administrativo em educação Eloiz Cristino, destaca que as desigualdades existentes até hoje, faz com que parte significativa da população conviva com a injustiça social.
Ele reforça que as religiões afro-brasileiras têm resistido ao longo da história e que “e nem um processo tão dolorido e cruel como a escravidão, fez com que a cultura negra se apagasse totalmente, pelo contrário, os aspectos culturais foram reconfigurados”, enfatiza.
O também técnico-administrativo em educação Valdemir Rodrigues, em consonância reforça a importância de nesse momento, da atual conjuntura, atividades contemplarem o culto às raízes e origens africanas.
Para dar abertura a mesa, a Iyá Sandra de Oxum, Sandra Aires, lembrou da importância das mulheres negras para a preservação da religiões de matriz africana no Brasil. “Há mais de 500 anos, nós, de matriz africana, cultuamos e preservamos enquanto mulher negra, Ialorixá. Quem preservou a semente da matriz africana fomos nós mulheres com fibra, coragem e determinação.
A Ialorixá Iyá Sandra de Oxum durante sua fala ainda trouxe um resgate histórico do surgimento do Batuque do Sul, suas especificidades e destacou a tríade de culto do corpo, mente e espírito. “Por que o corpo, a mente e o espírito? Porque o orixá habita em mim, habita em meu corpo. A morada de orixá, do meu sagrado é o meu corpo”, enfatiza.
O presidente da União da Umbanda e Afro Cavalheiros de Cristo de Santa Maria, Henrique Babalorixá de Oxalá saudou a mesa e a presença de todos e todas. Durante sua fala, enfatizou a luta pelo respeito às religiões afro-brasileiras. “Nós engajamos numa luta para que nossa religião tivesse respeito como é devido com o senhor ou a senhora branca ou preta. Dentro da nossa religião, sendo branco ou preto já existe o carma africano de ser escravo”, explica o Babalorixá reforçando os estigmas e preconceitos que permeiam a intolerância religiosa no Brasil. Para ele, a melhor forma de combate a isso é a união entre os irmãos e irmãs, pois “unidos teremos força, luz e caminho”, finaliza.
Ao longo do processo de escravização de negras e negros, a permissão de cultos religiosos diferentes do catolicismo por muito tempo foi negada, deixando a cultura e religião afro subjugada em uma sociedade extremamente preconceituosa. O Babalorixá de Oxum Docô, Cleocir Guimarães Cristino iniciou sua fala destacando a violência que passa 24 horas só por ser preto, pobre, puto e pai de santo. “Intolerância religiosa eu passo por 24h, começando que eu já me acordo, tocando sineta, fazendo chamada e os vizinhos não aceitam. Já fui várias vezes denunciado por causa do barulho”, desabafa.
O fim da escravidão no Brasil manteve estigmatizada a população negra, em condição de subalternidade às margens da sociedade. O Babalorixá de Ogum, Ronaldo Barbosa, durante sua fala enfatizou que os nossos direitos estão ameaçados nesse contexto político. “Temos muitas demandas e temores. Esse Estado que temos como laico, nunca nos reconheceu como povos de tradição de matriz africana”. Ronaldo Barbosa destaca que é fundamental fortalecer as raízes, manter a resistência constante e agir como agentes políticos para garantir que os impactos não sejam tão devastadores.
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