Tradicionalmente, o mês de novembro é também conhecido como Mês da Consciência Negra, em alusão ao dia 20, data que homenageia Zumbi, líder negro do Quilombo dos Palmares e tem por objetivo reconhecer a contribuição da população negra para o desenvolvimento do país, afirmar e valorizar a cultura negra. Todos os anos, a Assufsm promove uma série de atividades para fortalecer esta luta. A novidade é que neste ano, a programação está unificada ao calendário da UFSM, com a participação de ações de diversos grupos e coletivos negros de Santa Maria.
A abertura das atividades organizadas pela Assufsm, iniciou na terça-feira (07), com a roda de conversa sobre “Saúde Mental da População Negra”, com a participação da técnico-administrativa em educação e psicóloga Ticiane Lúcia dos Santos; do também técnico-administrativo em educação e psicólogo Lourival Pinto Filho; da estudante de Psicologia na UFSM, Juliane Loreto e do técnico-administrativo aposentado e enfermeiro Edemilson Xavier. A coordenação da mesa será do técnico-administrativo em educação Aldrei Alfaro.
Ao abrir a mesa, o técnico-administrativo em educação, Aldrei Alfaro reforçou que a Assufsm é um espaço de luta e defesa dos direitos da categoria, mas para além dessa causa, também atua no combate a toda e qualquer forma de discriminação social. Um exemplo disso, é a o processo administrativo que a entidade organizou para cobrar uma atuação efetiva da UFSM quanto aos ataques racistas que vem se intensificando na instituição.
O técnico-administrativo em educação psicólogo, Lourival Pinto Filho relatou um pouco sobre a rotina de trabalho e a forma de atuação dentro da área de acompanhamento dos trabalhadores e trabalhadoras. Ele afirma que, ao realizar um projeto conjunto com a perícia, é cada vez maior o número de pessoas que adoecem no contexto do trabalho.
Para ele, um dos principais motivos de adoecimento no ambiente do trabalho vem das relações interpessoais, mas que ela não está desvinculada as relações intrapessoais. “A partir do momento que eu estou bem comigo mesmo, que tenho uma imagem bem trabalhada, minhas relações refletem isso”, afirma o psicólogo.
A psicóloga do campus de Palmeira das Missões, Ticiane dos Santos, que atua em atendimentos individuais e coletivos, reforça também que uma das demandas das quais lida no seu cotidiano é a questão do racismo e desabafa que isso fragiliza muito a autoestima de negras e negros.
Ela reforça ainda que é muito importante lembrar todo o contexto social de formação do país e como isso se configura nas relações. “É necessário termos essa visão social e é importante que a nossa prática também reflita isso… O racismo ele existe. Não quer dizer que ele vá ser a fonte principal do adoecimento psíquico, mas ele pode sim desenvolver muitos transtornos nos sujeitos”, explica Ticiane.
A estudante de psicologia Juliane Loreto, também participante da mesa, destacou a felicidade de fazer parte de um debate que contemple a fala também de profissional da área, uma vez que o seu lugar de fala é enquanto estudante. Enquanto estagiária na Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP), ela percebe que muitas vezes o atendimento é prestado de maneira breve e pontual. “E é um assunto muito importante na universidade, porque o meio é adoecedor”, relata a estudante.
Em sua fala, Juliane ainda reforça que são muitas as questões que envolvem o aumento destes casos. “A questão geracional é muito presente. Tenho percebido como negros(as) de 30 anos para mais tem uma consciência diferente. Então tá, eu sofro racismo como vi minha família sofrer a vida inteira, mas eu tenho que sobreviver, tenho que trabalhar, tenho que baixar a cabeça porque são muitos que dependem de mim”, conta a estudante.
Perceber essas nuances que cerceiam a vida da população negra é fundamental para entender de que forma acontece o adoecimento a esta população. O técnico-administrativo em educação enfermeiro aposentado, Edmilson Xavier, destacou também as conquistas da população negra ao longo dos anos e que agora estão ameaçadas. “Tivemos uma conquista importante no STF que é a liberdade de expressão, então não vamos perder isso de vista. Tem muitas coisas acontecendo nesse país e a gente não está se dando conta. Muitas coisas mudando, os gabinetes em Brasília e são muitos os direitos ameaçados”, enfatiza o técnico-administrativo em educação.
Para Edemilson o acolhimento é fundamental para fortalecer a cultura e a autoestima da população negra. Ao concluir sua fala, lamenta também a pouca participação da gestão da UFSM nas atividades do mês da consciência negra, “Eu gostaria que eles ouvissem isso, mas tenho certeza que o que eu estou falando vai chegar ao magnífico reitor. Nós temos que pedir soluções. É muito fácil a gente ofender outra pessoa e depois justificar que é brincadeira, mas se você fala, você tem que ter responsabilidade civil e lega pelo que você fala. Não é fácil, mas temos que ser resistência”.
O debate que aconteceu no Hall da Reitoria teve a participação de estudantes e técnico-administrativos em educação e foi a primeira atividade da programação unificada do Mês da Consciência Negra organizada pela Assufsm.