A participação das mulheres na construção do pensamento científico é tão antiga, quanto o próprio princípio de ciência. Na atualidade, cada vez mais pesquisas comprovam a significativa contribuição de realizações científicas femininas para o desenvolvimento da sociedade. Levando em consideração isso, a Assufsm realizou na terça-feira (12), a Live Sindical “Mulheres Pesquisadoras”, com o objetivo de fortalecer a discussão sobre o assunto.
A transmissão (ver a live completa aqui) contou com a participação da Coordenadora da Mulher Trabalhadora da Fasubra e Doutora em História, Mariana Lopes e da Professora Doutora do Departamento de Educação da UFSM, Márcia Paixão. A mediação ficou por conta da Jornalista da Assufsm, Stéphane Powaczuk. Durante o debate, as convidadas contaram sobre os desafios em serem reconhecida enquanto mulheres produtora de conhecimento no universo acadêmico.
Confira abaixo trechos da entrevista em que elas problematizam a questão da mulher na ciência e propõem caminhos para que estas pesquisas sejam reconhecidas.
Stéphane Powaczuk – Que desafios vocês acham que as mulheres ainda enfrentam na pesquisa?
Mariana Lopes: Há uma dificuldade que tem se chamado no movimento feminista, de “síndrome da impostora”. É quando as mulheres podem ser muito melhores em termos de qualificação do que os homens, mas elas acabam se sentindo menor e daí o homem que sabe bem menos sobre determinado assunto, acaba falando muito mais sobre aquilo. O patriarcado e o machismo, faz com que elas se sintam como impostoras, como se não soubessem sobre aquilo que estão falando.
Márcia Paixão: Olha eu vejo que, continuando a questão que a Mariana traz, é bem isso, nós temos um grande problema nas universidades, também nas áreas de conhecimento de um modo geral. A ciência é masculina. Nós vivemos isso diariamente e os efeitos do patriarcado está presente tanto nos homens, quanto em algumas mulheres. Se tem um imaginário social construído de que as mulheres precisam ficar no cuidado. Então embora a gente tenha mestrado, doutorado, essas questões ainda se fazem presente e impedem e retardam ainda mais o nosso acesso nos espaços de produção de conhecimento.
Stéphane Powaczuk – A contribuição das mulheres na ciência é destacada pela ONU Mulheres como vital. Mas, a gente sabe que nem sempre somos reconhecidas. Por que vocês acham que esses avanços são minimizados ou negligenciados?
Mariana Lopes: Então, pensando nesse momento de pandemia. Queria lembrar que quando o COVID-19 começou a ser decodificado o seu código genético, quem descobriu no Brasil foram duas mulheres. Como você citou, segundo a pesquisa da ONU Mulheres, a maioria das profissionais de saúde no mundo, 70% são mulheres, ou seja, quem está literalmente salvando nossas vidas são mulheres.
Márcia Paixão: Em relação ao que as mulheres pesquisam, nós ainda temos, infelizmente, uma questão que é desqualificar. Como se aquele tema de pesquisa, fosse menor. Discutir questões de gênero é menor do que estudar a questão da nanotecnologia, por exemplo. Assim as mulheres precisam fazer muitos movimentos para serem reconhecidas e isso nos deixa cansadas, porque exige muita resistência para enfrentar essas opressões que estão presentes na universidade. Ainda temos muito a pensar, dentro do espaço acadêmico para desmascarar esse disfarce de que, porque estamos todos e todas dentro da universidade, somos iguais. São vários pontos a serem considerados quanto a justiça social e igualdade entre mulheres e homens em todos os espaços.
Stéphane Powaczuk – Vocês têm conhecimento de política de incentivo à participação de mulheres na ciência, aqui no Brasil? Pensando até da necessidade disso como um suporte às mães pesquisadoras.
Mariana Lopes: Do ponto de vista governamental, nós sabemos que não. Até porque esse Governo atual que temos, zerou as verbas para o combate à violência contra mulher, então quem dirá sobre ciência e demais aspectos? Mas há organizações, como ONGs, sindicatos, movimentos feministas diversos que fazem esse trabalho de incentivar mulheres na ciência. Então eu vejo isso, muito mais dentro do movimento, não consigo perceber enquanto política pública, infelizmente.
Márcia Paixão: De fato, atualmente nós não temos nenhum incentivo nesse aspecto das mulheres na ciência. Já tivemos, há um tempo, por exemplo, o Inep que incentivou bastante essa questão. Mas eu quero mencionar, que aqui na UFSM nós viemos trabalhando nessa perspectiva de termos uma política de gênero na UFSM. Essa política está centrada em três pilares, por assim dizer: enfrentamento, assistência e promoção da igualdade. Atualmente está em fase de análise na PROJUR, tentando fazer com que isso se torne uma realidade na UFSM para que tanto as mulheres estudantes, professoras e técnico-administrativas possam ter asseguradas os seus direitos em todos os níveis. Então, essas são conquistas que nós precisamos ter nas universidades, buscando essa justiça de gênero em todos os níveis. Nós esperamos que em breve tenha aprovada essa política de gênero na UFSM.