Desde o final de julho, o setor de comunicação da Assufsm promoveu uma campanha para denunciar práticas de racismo e conscientizar a todas e todos sobre os impactos dessa violência. Para o encerramento da campanha, na sexta-feira (17), a Live Sindical da Assufsm teve como tema “Africanidades” e contou com a participação da Advogada, Professora e Afrocoaching, Deborá Evangelista e do técnico-administrativo em educação da Universidade Federal de Minas Gerais e Coordenador de Raça e Etnia da Fasubra, Rogério Fidelis.
Diante dos casos de racismo que ficaram ainda mais evidentes neste período de pandemia, assumir uma postura antirracista na prática e efetiva se torna mais urgente. A #VidasNegrasImportam (#BlackLivesMatter, originalmente) que surgiu em Nova York, nos Estados Unidos, em 2013, como forma de denúncia à morte de jovens negros norte-americanos, voltou à tona este ano, após a morte de George Floyd nos Estados Unidos.
Para Deborá Evangelista é muito importante não deixar que esse movimento seja apenas um momento. “Não podemos deixar que o #VidasNegrasImportam sejam apenas um momento, uma onda. Focar e fazer uma campanha centrada, que discuta a o genocídio da população negra é muito importante”, afirma.
Deborá é uma mulher negra, bisneta de parteira e neta de benzedeira. Natural de uma família em que o matriarcado prevalece, desde cedo foi incentivada a reconhecer e valorizar sua identidade negra. Ela conta que o trabalho com mulheres negras iniciou em 2018, em decorrência da atuação no Direito. “Eu fiz a formação de coaching e comecei a utilizar essa ferramenta também no Direito. Muitas mulheres entravam com ações judiciais sobre racismo e uma situação é o que o Direito consegue fazer, outra é trabalhar com aquela mulher negra que está na minha frente sua autoestima e emocional para que ela se reconheça como sujeito do Direito que ela vai utilizar”, explica a advogada e afrocoaching.
Assim como Deborá, o Coordenador de Raça e Etnia da Fasubra, Rogério Fidelis, acredita que uma das principais formas de empoderamento e fortalecimento da população negra é o reconhecimento da própria identidade negra, a partir da educação e valorização da própria história. “Nós precisamos urgentemente desmistificar esta ideia que os negros foram apenas escravos. Essa narrativa desconsidera o que veio antes. Nós negros, fomos escravizados e trazidos para o Brasil, mas trouxemos nossa cultura, nossas tradições, nossa religiosidade. Nós somos descendentes de reis e rainhas”, afirma o coordenador. “Eu afirmo que a educação é a chave para chegar numa sociedade efetivamente igualitária e fortalecer a nossa história”, reforça Rogério.
Após o período pós-abolição, a “liberdade concedida” à população negra, teve vários entraves. Não havendo reparação histórica pelo período da escravização, os negros e negras foram colocados a margem com barreiras refletidas até hoje. Apesar da Constituição dispor sobre o princípio da Igualdade, Deborá acredita que é muito importante reconhecer as diferenças. “A igualdade não é efetiva. Nós somos diferentes e precisamos defender a noção de políticas públicas e qualidade de vida para as pessoas negras. Se pensarmos que somos iguais, então não precisamos fazer mais nada”, explica. “Reconhecer que o racismo existe é o primeiro passo para que este seja enfrentado”, conclui Deborá.
Rogério Fidelis ainda reforça que não se pode pensar numa igualdade no pós-abolição, pois as oportunidades são diferentes para negros e não negros. “Somos iguais, mas a lei nos trata diferente. A primeira coisa que um delegado faz é desqualificar uma denúncia e colocar o termo ‘injúria racial’ num boletim de ocorrência. A naturalização do racismo, desumaniza a pessoa e não tem mobilidade social, nem ascensão enquanto não houver oportunidades iguais para negros e não negros”, relata o coordenador. “O movimento negro procura o tratamento diferenciado, não para ser um privilégio porque isso o branco já tem. Tem esse direito no Ensino Superior, nos Concursos Públicos, nos cargos diretivos… mas só podemos pensar em políticas públicas de mobilidade social quando as oportunidades forem as mesmas”, finaliza.
Campanha Vidas Negras Importam
No cotidiano, muitas são as formas que o racismo se configura. A linguagem, por exemplo, carrega muitos significados e reconhecer e excluir do nosso vocabulário expressões racistas, também é uma forma de ser agente antirracista na prática. Confira abaixo o material gráfico da campanha da Assufsm “Vidas Negras Importam”, que encerra nesta sexta-feira (17).