Durante a manhã desta quarta-feira, 09, do XXXIII Confasubra, Congresso da Fasubra, o debate aconteceu em torno da temática da Opressão. Na oportunidade foi evidenciada a luta das mulheres, do movimento LGBT e das mulheres e homens negros brasileiros.
Antes da mesa iniciar, aposentados e aposentadas presentes no evento fizeram uma intervenção com palavras de ordem para lembrar aos presentes também a luta destes que há muito lutaram e lutam pela história da Federação e os direitos das e dos aposentados.
Beatriz Luz da Silva, advogada criminalista e feminista começou agradecendo o convite por compor uma mesa tão importante como a de Opressões. Ao longo de sua fala, a advogada trouxe aspectos da justiça brasileira como a seletividade penal, que quem paga a conta são os negros e negras, e pobres.
Beatriz lembrou ainda dos projetos de lei inconstitucionais que estão em tramitação no Governo, como a Lei do Abate que permite à Polícia atirar no ‘bandido’ se ele estiver portando arma de fogo de um determinado calibre. Para a advogada os motivos que fazem com que esses discursos sejam tão facilmente aceitos pela sociedade é o crescimento da onda fascista no país e o Direito Penal do espetáculo que “sobre o pretexto da corrupção, instala a ditatura do judiciário que dá legalidade a todo e qualquer ato de violência”, desabafa.
Logo após, o militante socialista e fundador do movimento Hip Hop Quilombo, no Maranhão, Hertz, explicou que a burguesia hoje se utiliza das opressões para polarizar os grupos sociais. Relembrando os 130 anos da “abolição da escravidão”, que completa no dia 13 de maio, o militante trouxe um contexto histórico da situação dos negros e negras que foram trazidos ao Brasil e lembrou que o Brasil foi o país que mais importou negras e negros escravizados e que até hoje não há reparação que deixe em pé de igualdade essa população.
“Nós não tivemos reparação alguma. Reparação foi cadeia, reparação foi desemprego. Reparação foi jogar nosso povo nos manicômios. Tinha uma política de exterminar os negros e negras desse país”, afirma Hertz.
Yone Gonzaga, técnico-administrativa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) saudou os presentes e as falas anteriores. Destacou que enquanto mulher negra, se sentiu representada pela contextualização macro que o companheiro Hertz trouxe sobre a população negra. A TAE destaca que hoje só consegue enxergar a mudança acontecendo se esta partir do lugar em que estamos, dentro das universidades, na família, no ambiente de trabalho.
Ao longo de sua fala, Yone questiona até que ponto nós contribuímos para que as opressões acontecem e reforça a importância da interseccionalidade dos discursos das minorias. Durante a mesa, a TAE discorreu sobre uma pesquisa que fez recentemente com a categoria e que evidencia o assédio nas próprias relações entre a categoria e entre os demais setores da universidade.
“Como refletir sobre isso num Congresso quando acontece dentro das Universidades? Quando essas opressões estão nos coisificando e invisibilizando nossas relações? ”, questiona a TAE. Segundo Yone, estas questões interpassam por questões como raça, gênero e classe e a mídia hegemônica contribui para essas opressões, no momento em que determina quais vidas merecem ser vividas e quais não.
Finalizando a fala, a TAE ressalta a importância da Fasubra retomar as discussões dos congressos anteriores, pois o discurso sobre a questão racial ainda é muito tímido e deve iniciar na questão do racismo institucional, e na, cada vez menor, participação da população negra no ensino superior e em concursos públicos, por conta de todos os ataques do Governo.
A técnico-administrativa em educação fundadora do Núcleo de Consciência Negra da USP, Jupiara Castro, que também estava na mesa, iniciou falando que dentro do próprio movimento sindical existe a opressão e por isso, no 4º dia do XXIII Confasubra antes de discutir projetos sociais para o país é importante o debate da reeducação de cada um e cada uma. “Nós construímos o país e é preciso o reconhecimento disso”, afirma Jupiara.
Segundo ela, o racismo ainda está muito presente no funcionalismo público e isso intensifica quando o governo está nas mãos de uma minoria fascista e opressora. A TAE lembrou da militante negra Marielle Franco, assassinada em março deste ano; mais uma mulher negra e pobre que militava pelo direito da população negra e que sua execução foi um recado a todos e todas negras do país.
Jupiara conclui sua fala ressaltando a importância de fazer uma avaliação de tudo que vem acontecendo no país e encontrar medidas de combater essas opressões no cotidiano.
“Nós estamos chamando aqui uma unidade para combater um projeto que está aí. Nós estamos dizendo que temos que ter resistência para combatermos o que está posto e nos apegamos ao pior: se a tinta é mais vermelha ou mais rosada. Eu digo que nós devemos construir passo-a-passo a derrotada deste projeto que está instalado”, afirma Jupiara.
A TAE da Universidade Federal da Bahia, Lucimara da Silva, reforça que “somos muitos” e que devemos tomar cuidado porque dentre as formas de morte está a invisibilidade destes muitos. Segundo ela, é muito importante a unidade, desde que esta não apague as diferenças e as especificidades de cada grupo social. “Entre nós reproduzimos ainda comportamentos opressivos”, afirma.
Lucimara reforça que nós precisamos compreender nossos privilégios e reconhecer a diversidade porque não se está falando de massas homogêneas e por isso, é preciso considerar que cada um e cada uma tem uma raça, classe e gênero. Diante de todas as ofensivas do Governo, a TAE destaca que, para ela, a prisão do ex-presidente Lula significa também uma seletividade penal e que essa situação nada mais é, do que a forma que as elites encontram para abater toda e qualquer ameaça à sua hegemonia.
Ao final da mesa, a historiadora e técnico-administrativa em educação da Universidade Federal de Goiás, Mariana Barbosa, desceu do palco para falar em pé de igualdade com os presentes. Durante sua fala ela desabafou o incômodo que sentia em estar discutindo opressões em um dia que as atividades da tarde são livres no Congresso e por isso, para um plenário esvaziado.
“Infelizmente eu vou ter que fazer uma crítica, nós sabemos que a Fasubra tem avançado bastante, mas colocar, a mesa de opressões no único dia livre do Congresso é para acontecer isso que está acontecendo agora. O plenário já está esvaziado e as nossas pautas mais uma vez, estão sendo invisibilizadas”, afirma a TAE e reforça ainda que é muito importante a autocrítica.
Ao longo de sua fala, Mariana evidencia a importância de reconhecer que cada grupo social tem uma especificidade e que por isso é perigoso aglutinar todos num mesmo espaço, ainda mais considerando a importância dos espaços de acolhimento para essas minorias. Para a historiadora, a linguagem inclusiva é um primeiro passo para reconhecer a diversidade dos grupos e despertar a sensibilidade humana.
Ao concluir sua fala, Mariana ressalta que opressões não são apenas gênero, orientação sexual e raça; é fundamental incluir no debate e olhar para as questões de violências quanto ao capacitismo e geracional – fazendo referência a intervenção dos aposentados e aposentadas na abertura da mesa.