Entidades criam ferramentas para mulheres com deficiência denunciarem violência doméstica

O Fundo de População das Nações Unidas mostra que mulheres com deficiência têm três vezes mais chances de sofrer violência. Para ajudar a combater esse tipo de agressão a ONG Criar Brasil, com o apoio da Fundação Heinrich Boll Brasil e assessoria do Coletivo Feminista Helen Keller desenvolveu uma pesquisa e conteúdos diversos de comunicação.

De acordo com a pesquisa, a violência doméstica afeta mulheres sem distinção. Apesar disso, algumas estão mais expostas que outras, como no caso de mulheres com deficiência, que apresentam maior vulnerabilidade nestas situações, seja pela dificuldade de obter informações, de denunciar, ou por questões impostas pelo próprio corpo.

Com conteúdos acessíveis, o projeto discute a violência doméstica sob o olhar das mulheres com deficiência. Anna Carla Ferreira, da ONG Criar Brasil, relata que apenas 27% das mulheres que responderam à pesquisa disseram nunca ter sofrido ou vivenciado situações violência. “Outro resultado que chama a atenção é sobre a rede de proteção à mulher, a gente vê que ela não funciona. As pessoas vão até à delegacia, pois muitas vezes não sabem ainda sobre o Disque 180, e não tem atendimento. Se for uma mulher que precisa de libras, não tem intérprete na delegacia”, explicou à jornalista Adriana Maria, da TVT.

O conteúdo criado pelas entidades traz cartões virtuais para compartilhamento, podcasts e videos acessíveis para essas mulheres. Além disso, também foi publicado um minidocumento mostrando os detalhes da pesquisa. Segundo as respostas das entrevistadas: 51% disseram que já tiveram a sua deficiência usada forma de ser inferiorizada; 52% foram vítimas de agressões verbais e 37% foram agredidas fisicamente. Outras 35% tiveram seu corpo tocado sem consentimento.

Denúncia e acessibilidade

No final do questionário, as mulheres responderam questões referentes à proteção e ao enfrentamento à violência doméstica e intrafamiliar. Entre as respostas, a pesquisa destacou uma fala sobre os espaços de proteção às mulheres carecerem de conhecer e saber lidar com as deficiências em sua diversidade. “Encontramos barreiras físicas, atitudinais e comunicacionais. Há crenças arraigadas em modelos caritativos, apego ao modelo biomédico e tendência a abordar as realidades das mulheres com deficiência sem levar em consideração elementos psicossociais e culturais, por exemplo. Em suma, nossas vozes dificilmente recebem uma escuta ética, uma recepção que nos permita acessar efetivamente os nossos direitos e dignidade.”

Segundo Cristina Kenne, integrante do Coletivo Helen Keller, conhecer a realidade em que vivem essas mulheres com deficiência é de suma importância. “A construção dessa pesquisa envolveu todos os aspectos de acessibilidade, atitudinais e de comunicação. A proposta é que as informações contidas nesse material possam ser utilizadas como insumos para construção de política o e de acolhimento para erradicar esse problema”, afirmou à TVT.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Texto: Brasil de Fato

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