Na manhã da última quinta-feira (20), a ASSUFSM realizou, na Sede Campestre, um evento especial em alusão ao Dia da Consciência Negra. O encontro, marcado por reflexão, cultura e valorização da ancestralidade, reuniu servidoras, servidores e convidadas em um ambiente de construção coletiva.
A abertura ficou a cargo do coordenador de Esporte, Cultura e Lazer, Paulo Quadrado, que deu as boas-vindas ao público e realizou a apresentação das convidadas, juntamente com a coordenadora Jurídica e de Relações de Trabalho, Jiele Silva, reforçando a importância de promover espaços de diálogo sobre negritude e enfrentamento ao racismo.
Em seguida, teve início a roda de conversa sobre negritudes, com a participação da vereadora Alice Carvalho, da TAE Ângela Souza e da professora da rede municipal Claudia Bassoaldo. As convidadas trouxeram contribuições essenciais sobre identidade, resistência e representatividade negra nos espaços públicos, educacionais e institucionais.
A vereadora Alice Carvalho apresentou um panorama histórico amplo e sensível sobre o 20 de novembro, contextualizando o significado da data para o movimento negro brasileiro. Ela destacou que o Dia da Consciência Negra surge como uma construção política e simbólica, em contraponto ao 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea, frequentemente tratada de forma romantizada na historiografia tradicional. Alice enfatizou que o 20 de novembro reivindica a memória da luta e não apenas a noção de liberdade concedida, fortalecendo o entendimento de que a abolição foi um processo incompleto e excludente. Ao resgatar a figura de Zumbi dos Palmares, ela reforçou a importância da resistência quilombola como matriz da luta negra no país e destacou também o legado de Dandara, lembrando que as mulheres negras foram, e ainda são, protagonistas essenciais nas batalhas contra a opressão, apesar de serem constantemente invisibilizadas nas narrativas oficiais. Sua fala apontou para a necessidade de manter viva a ancestralidade de luta, reconhecendo quem abriu caminhos para que as novas gerações ocupem espaços antes negados.
A TAE Ângela Souza, por sua vez, trouxe uma reflexão fundamentada em dados sobre a presença da população negra na UFSM, analisando a composição racial do corpo docente, das equipes administrativas e dos espaços de gestão. Ela apontou as discrepâncias que ainda persistem na universidade, sobretudo nos cargos de maior prestígio e tomada de decisão, convidando o público a observar criticamente como as estruturas institucionais reproduzem desigualdades históricas. Ângela destacou que não basta um discurso antirracista abstrato: é fundamental promover práticas concretas, políticas de acesso, permanência e participação que modifiquem a realidade e rompam com o racismo estrutural. Em sua fala, ela trouxe a metáfora dos “muros” que ainda separam vivências e oportunidades, defendendo a necessidade de desconstruir essas barreiras e substituí-las por um muro de equidade, construído coletivamente a partir de ações comprometidas com justiça racial.
A professora Claudia Bassoaldo ampliou a discussão ao afirmar que falar sobre negritude implica, necessariamente, um debate sobre branquitude, pois é nela que se estruturam privilégios e hierarquias que perpetuam desigualdades raciais. Claudia abordou o cenário municipal, lembrando que as políticas de promoção da igualdade racial precisam ser compreendidas como parte de um movimento mais amplo de enfrentamento ao racismo institucional. Informou que Santa Maria aderiu ao SINAPIR em 2025, um passo importante para a consolidação de políticas públicas na área, e anunciou que no dia 10 de dezembro o município receberá o Selo de Cidade Antirracista, reconhecimento que simboliza um compromisso coletivo, mas que também exige vigilância contínua para que tais políticas sejam efetivas e transformadoras. Sua fala ressaltou que o combate ao racismo deve atravessar todos os setores da sociedade, incluindo educação, gestão pública e convivência comunitária.
Ao final das falas, a Coordenadora de Formação Política e Sindical Sandra Rocha, a Coordenadora Jurídica e de Relações de Trabalo Gláucia Tassinaria e a Coordenadora de Secretaria Jaíne Vasconcellos fizeram a entrega de brindes às convidadas. Por fim, a Coordenadora Geral Loiva Chansis parabenizou as participantes, trazendo reflexões sobre privilégios e sobre os impactos da Reforma Administrativa (PEC 38/25) na vida das trabalhadoras e trabalhadores. Já Jiele Silva reforçou a importância de enfrentar o preconceito no ambiente laboral e de fortalecer espaços que promovam inclusão e respeito.
O momento cultural do evento foi marcado pelo almoço especial preparado pela Cozinha Carmen Vera, comandada pela Ìyá Silvia de Osun, do Ilè Àse Ìyá Omin Orùn – Egbè Osun. A feijoada, acompanhada de acarajé tradicional, trouxe sabores da culinária afro-brasileira, reafirmando a ancestralidade como elemento essencial da resistência negra.
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