Na tarde de terça-feira (27), aconteceu no Auditório da Antiga Reitoria o debate “Mulheres Negras na Política”, com a participação da estudante de psicologia, presidente do PSOL Santa Maria e candidata a Deputada Estadual pelo PSOL, Alice Carvalho; a professora da rede estadual e também candidata a Deputada Estadual pelo PSOL, Karen Santos; a iyalorixá, educadora, psicóloga e candidata a Deputada Estadual pelo PT, Iyá Sandrali e a professora estadual aposentada, alfabetizadora, escritora e patronesse do Mês da Consciência Negra da UFSM, Maria Rita Py Dutra e mediação da pesquisadora e cientista social Andressa Mourão Duarte. A atividade organizada pela Assufsm compõe a programação unificada do calendário do Mês da Consciência Negra.
Ao abrir a mesa, a patronesse Maria Rita, fez sua fala em memória a Jucineide Vaz dos Santos, dirigente sindical, vereadora municipal do PT, ativista no movimento negro, atuante na Escola de Samba Vila Brasil e funcionária do Instituto Metodista Centenário, falecida no último dia 20 em decorrência de um acidente de trânsito.
Maria Rita relembrou a trajetória de Jucineide trazendo aspectos, enquanto mulher negra, mãe, amiga e ativista; e reforçou que enquanto espírita, a morte não precisa ser dolorosa. “Não é momento de chorar pessoal… Eu acho que Orun está em festa porque ela partiu, mas deixou o seu perfume em cada um e cada uma de nós aqui presente”, desabafa a patronesse.
Após a fala da patronesse, que arrancou muitos aplausos e emoção dos presentes, a professora da rede estadual e também candidata a Deputada Estadual pelo PSOL, Karen Santos, enfatizou a importância de falar sobre racismo estrutural, estruturante e institucional. “Essa discussão é muito importante principalmente no momento em que estamos vivendo e também de pensar qual é o nosso compromisso enquanto organizações, instituições, coletivos. Estamos conseguindo levar essa discussão a sério? Pensando num Brasil que ainda vive o mito da democracia racial”, enfatiza a Karen.
Ao longo de sua fala a educadora destacou que atualmente o protagonismo das mulheres negras vem ganhando bastante destaque, sobretudo após do assassinato de Mariele Franco. “Discussões que envolvem a interseccionalidade de raça, classe, gênero, sexualidade, regionalidade estão sendo postas para entender como acontecem os processos de luta”, reforça.
Em consonância, a presidenta do PSOL Santa Maria, Alice Carvalho, durante sua fala destacou que é importante considerar cada especificidade de luta para garantir a quebra da estrutura opressora. “Por exemplo, a partir do movimento feminista que é majoritariamente branco, as mulheres conseguiram sair do espaço privado para ir para espaços públicos e ocupar movimentos políticos – e que mesmo assim continuam com uma sub-representação – deixou as mulheres negras a parte. Ou seja, nós continuamos nos espaços privados, muitas vezes cuidando da casa e dos filhos dessas mulheres para que elas pudessem ir para o espaço público”, explica Alice.
A presidenta do PSOL Santa Maria destacou em ainda que os modos de fazer política vão além de partidos, mas nas vivências cotidianas e só a partir do movimento de mudança e inserção nos espaços sociais que é possível uma mudança estrutural na sociedade.
A última fala, mas não menos importante foi de Iyá Sandrali. Ao iniciar a educadora se dirigiu até a tribuna e declarou “Eu desci para esse espaço da tribuna porque já que criaram, nós também precisamos ocupar. Isso é um ato simbólico e um ato político”.
Iyá Sandrali contou sobre a trajetória e as histórias de luta, enfrentamento e resistência dos ancestrais de sua família. Para ela, fazer política não é algo individual, mas coletivo e levando em consideração as mulheres negras, fazer política é força vital. “Para nós é vital e tem nos conduzido a novas possibilidades e para que sejamos humanas e que nos relacionemos melhores umas com as outras”, afirma a educadora. Iyá Sandrali enfatiza que é na luta dos antepassados que estão os maiores legados da população negra. O movimento político que iniciou na diáspora em meados do século XVI, protagonizado por mulheres e homens negros perdura até hoje.
Encerrando o debate, a educadora relembra a dívida histórica que o processo de colonização exploratório deixou para a população negra e reforça que: “A paz se faz na guerra e, por isso, desde que chegamos lutamos contra as opressões. Por isso aqui não falamos em direitos humanos, mas sim em justiça social”.