O GT Políticas Sociais e Antirracistas da Assufsm, em reunião, encaminhou pela construção de uma Carta Aberta para denunciar práticas reiteradas de racismo institucional vivenciadas por servidoras negras da Universidade Federal de Santa Maria, bem como reafirmar seu compromisso com a construção de um espaço verdadeiramente democrático, plural e inclusivo.
Leia a Carta Aberta, abaixo:
Por uma Universidade Pública, Gratuita, Diversa e Antirracista
Julho das Pretas – 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Neste Julho das Pretas, a ASSUFSM – Seção Sindical dos Técnico Administrativos em Educação da UFSM vem a público denunciar práticas reiteradas de racismo institucional vivenciadas por servidoras negras nesta universidade, bem como reafirmar seu compromisso com a construção de um espaço verdadeiramente democrático, plural e inclusivo.
Realidades que não podem mais ser ignoradas
Ao longo de suas trajetórias profissionais, mulheres negras têm enfrentado silenciamentos, deslocamentos arbitrários, vigilância injustificada, deslegitimação de suas competências e ridicularização de suas identidades religiosas e culturais.
Entre os relatos que chegaram ao nosso sindicato, constam situações como:
- A remoção de setor sem consulta prévia;
- A ausência deliberada de tarefas e de acesso às informações de trabalho por meses consecutivos;
- Denúncias infundadas, encaminhadas à ouvidoria sem qualquer documento comprobatório;
- Acusações públicas de desvio de função ou suposta prevaricação, mesmo diante de situações de assédio sofridas;
- Atribuição de falas humilhantes como: “pede para ela limpar o chão”; “ela te ajuda”; “então você vai cozinhar?”, impondo lugar de invisibilidade e dependência desproporcional
- Desprezo pelas atribuições do cargo ocupado, “é um desperdício de dinheiro público”;
- Atribuição de “obra de macumba” em decorrência de uma colega de trabalho ter sofrido um acidente doméstico, intolerância religiosa e cultural.
Racismo institucional, não é exceção
Como apontam pensadoras como Lélia Gonzalez, Luiza Bairros e Cida Bento, o racismo que opera no cotidiano das instituições públicas não é apenas individual ou intencional. Ele é estrutural e institucional — está presente nos processos de exclusão simbólica, nas narrativas que associam competência à branquitude e nas formas de deslegitimação que recaem sobre as mulheres negras que ousam falar, liderar ou resistir.
É o que chamamos de apagamento epistêmico: quando o saber produzido por corpos negros é descartado, ignorado ou apropriado sem reconhecimento.
Quando a mulher negra fala, dizem que ela grita
Como ensinou Lélia Gonzalez, a mulher negra que denuncia a opressão é frequentemente lida como agressiva ou desestabilizadora. Essa construção racista é usada para invalidar sua dor e neutralizar sua voz. Mas não nos calaremos. A ASSUFSM se posiciona com firmeza ao lado de todas as servidoras que vêm enfrentando essas violências cotidianas.
Por uma universidade antirracista
Acreditamos em uma universidade verdadeiramente pública, gratuita, diversa e antirracista. Isso não se constrói com discursos vazios, mas com políticas efetivas de combate às desigualdades, reparação histórica e valorização da presença negra nos espaços de gestão, ensino, pesquisa e extensão.
Por isso, no Julho das Pretas, reafirmamos nosso compromisso com:
- O combate permanente ao racismo e à intolerância religiosa na UFSM;
- A defesa da dignidade e valorização das servidoras negras;
- A escuta ativa e a responsabilização institucional por situações de assédio moral e racismo;
- A promoção de ações afirmativas que respeitem os saberes negros em sua integralidade.
ASSUFSM por uma UFSM onde todas possam existir com dignidade
Nosso sindicato está e continuará ao lado das mulheres negras que constroem diariamente esta universidade — principalmente quando são invisibilizadas, silenciadas ou atacadas. A luta por justiça racial é inegociável.
ASSUFSM – Seção Sindical dos TAEs da UFSM
Julho de 2025 – Julho das Pretas
Veja a carta aberta na integra, clicando aqui.
Veja também a leitura da carta em vídeo, pela Coordenadora Geral da Assufsm Alessandra Alfaro, clicando aqui.