Cepe aprova novas formas de ingresso na UFSM, mesmo diante da resistência dos movimentos estudantis, sindicais e sociais

Na manhã desta quarta-feira (05), o Cepe (Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão) aprovou por 32 votos favoráveis e 23 contrários, o retorno do vestibular e do processo seletivo seriado (PSS) na UFSM.

Do lado de fora do prédio do Inpe – onde acontecia a reunião – Polícia Federal e Brigada Militar impediam o acesso de estudantes, servidores e movimentos sociais que entoavam em coro a frase “sem discussão, e covardia, é desse jeito que age a Reitoria”.

Diante do resultado da votação, o Diretório Central dos Estudantes repercutiu em nota: “Um dia triste para a Universidade, um dia feliz para o empresariado santamariense. Apesar de tudo, estamos muito orgulhosos do Movimento Estudantil da UFSM que ao longo de todo o processo (ressaltando os últimos três dias) estava firme e forte na luta por uma instituição democrática e inclusiva. A Reitoria nunca escondeu o descaso com o movimento estudantil, desde a reunião do dia 30 de março, não comparecer na assembleia pública da segunda-feira, se recusando a receber os estudantes, se fazendo recluso e nulo perante nossos pedidos, recorrendo a saída oculta para não ser incomodado, levantando mentira sobre os estudantes, se apoiando em dados falsos e ainda não satisfeito MUDANDO o local de votação de última hora, chamando a polícia federal e brigada militar mais de uma vez, sendo que o movimento é TOTALMENTE PACÍFICO, com MEDO de dialogar com ESTUDANTES.

Mudança de local da votação

Logo no início da reunião, o coordenador geral do DCE Luiz Bonneti questionou a decisão repentina da Reitoria da mudança do local para a votação. Segundo ele, as/os conselheiras/os foram avisados cerca de 40min antes do início da sessão que a reunião não aconteceria na sala dos Conselhos – no 9° andar da Reitoria – e seria transferida para o auditório do prédio do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O reitor Luciano Schuch rebateu a crítica, e afirmou que a decisão foi tomada a fim de zelar pela segurança das/os conselheiras/os, referindo-se à ocupação do prédio da Reitoria por estudantes.

Ocupação

Após a última sessão do Cepe, na quarta-feira de semana anterior (29), ter sido adiada pelo reitor – depois de estudantes, servidores públicos e movimentos sociais adentrarem a sala de reuniões em manifestação – foi sinalizada a possibilidade de uma audiência para debater o assunto, nesta segunda-feira (03). No entanto, a reunião não ocorreu e, como forma de protesto aos atos da gestão da UFSM e em defesa do SISU 100%, estudantes passaram a noite na Reitoria em mobilização.

O coordenador de formação política e sindical da Assufsm Eloiz Cristino afirmou que a gestão foi rude e agiu de forma autocrática. “Fomos muito mal recebidos pela gestão. O grande paradoxo é que a Reitoria afirmou que a audiência não havia sido marcada, no entanto, a segurança no Gabinete do Reitor estava triplicada. Os estudantes tentaram negociar, mas não houve esse acordo”, relatou Eloiz.

Schuch alegou que os manifestantes não permitiram a saída dele do Gabinete e, por isso, a presença de policiais no prédio da Reitoria se fez necessária. No entanto, como pontou Eloiz, “não houve qualquer tipo de ameaça à integridade dos gestores para que o reforço da segurança fosse feito”.

Carta aos Conselheiros

Ainda na terça-feira (03), as entidades sindicais (Assufsm, Sedufsm, Sinasefe e Atens) e estudantis (DCE E APG) solicitaram que a Secretaria dos Conselhos encaminhasse aos e-mails das e dos integrantes do CEPE uma carta em que se pede mais tempo para discutir as mudanças na política de ingresso na universidade.

O objetivo era que a UFSM só votasse uma questão tão fundamental depois de realizar um debate amplo e democrático nos centros de ensino, junto à comunidade acadêmica e, também, aos movimentos sociais e comunidade externa.

Leia a íntegra da carta abaixo:

“Prezado/a conselheiro/a

Nesta quarta-feira o CEPE irá votar a minuta de resolução que altera as formas de ingresso na UFSM. Nós, entidades representativas, compreendemos que não houve amplo debate sobre o tema: a minuta foi apresentada em uma reunião no final de novembro, recebeu críticas e não foi modificada, sendo levada ao CEPE em janeiro, quando ocorreu o pedido de vistas. Queremos o debate nos centros de ensino, mas também com a comunidade.

Diante da falta deste debate e da intransigência da Reitoria em não retirar o tema de pauta, solicitamos que os/as conselheiros/as votem no Parecer de Vistas, que aprova APENAS as seleções específicas, e retira as questões do vestibular e do processo seriado da minuta.

Com isso, conforme solicitamos hoje, em reunião com a Reitoria, a comunidade acadêmica terá tempo para discutir não apenas a forma de ingresso, mas também a evasão e a permanência, construindo a minuta que for a melhor para a maioria. Queremos, com isso, garantir o debate que não ocorreu durante todo esse processo. Esperamos contar com o seu voto”.

Reunião ampliada

Na última terça-feira (4), representantes de movimentos estudantis e sindicais reuniram-se com o Reitor, no Espaço Multiuso, para expor os motivos pelos quais as entidades são contrárias à volta do vestibular e do Processo Seletivo Seriado (PSS).

Em nome da Assufsm, a Coordenadora Geral Loiva Chansis esteve na reunião e defendeu amplo debate da pauta, junto à comunidade acadêmica e externa à UFSM.

“Uma entidade sindical não deve ter pauta meramente cooperativista a sua categoria, um sindicato representa toda uma comunidade, ele tem que estar envolvido em todas as discussões. A discussão do ingresso, não é uma discussão de quem vai incluir, é também uma questão da permanência dos estudantes e de melhoria e qualidade do ensino. Um sindicato como a Assufsm, que envolve trabalhadores e trabalhadoras da educação, tem que estar envolvido em todas as discussões que dizem respeito à política pública, permanência e processo de inclusão dentro da Universidade”, declarou Loiva.

Confira a reunião na íntegra.

Defesa do SISU 100%

Desde 2015, o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) é a forma praticamente exclusiva de ingressar na Universidade. No entanto, ao final do ano passado, a discussão sobre as novas formas de ingresso foi iniciada pelos gestores. No entanto, de lá para cá, não houve nenhum diálogo aprofundado sobre o assunto com a comunidade acadêmica.

Conforme pontua o coordenador de formação política e sindical da Assufsm Eloiz Cristino o grande problema de tudo isso está na postura autocrática da gestão, que não abriu, em momento algum, a possibilidade para debater. “Reclamamos sobre a metodologia de como este debate aconteceu, sem audiências públicas, sem discussões aprofundadas nos campis, unidades e subunidades da UFSM. Temos um reitor que agora está mostrando qual é a sua postura, qual é a ideologia que defende, contrária aos interesses de uma universidade pública, com gestão e financiamento público, com autonomia e democracia. Queremos uma Universidade que seja cada vez mais inclusiva, que garanta pleno acesso às/aos estudantes de todo o território brasileiro” defende, Eloiz.

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