A terceira edição do Congresso contra o Neoliberalismo na Educação, realizado nesta semana, promoveu discussões centrais sobre a organização da classe trabalhadora e o papel da democracia nas instituições de ensino. O evento incluiu uma mesa de debate com o tema “Organização de classe e democracia: uma relação conflitiva?”, que reuniu representantes de diferentes países e organizações sindicais, incluindo Estela Gramajo, do Uruguai; Andrew Richer, dos Estados Unidos; Sara López, do Sindicato dos Trabalhadores em Faculdades do Paraguai (SINTRAFACSO); Edison Cantuña, da União Nacional dos Estudantes do Equador (UNE); Belén Ribeiro, militante do PCBR; e Wagner Vieira, da direção nacional da FASUBRA.
As falas dos participantes trouxeram uma análise global da luta dos trabalhadores na educação e destacaram a necessidade de se contrapor ao avanço neoliberal, que tem impactado o setor, impondo cargas de trabalho exaustivas e exploradoras. Wagner Vieira expôs a situação dos trabalhadores técnico-administrativos em educação nas universidades brasileiras, especialmente na área de limpeza, onde a quantidade de espaço coberto por trabalhador aumentou consideravelmente. Esse cenário, segundo Wagner, acentua a sobrecarga e o adoecimento dos profissionais, enquanto a pressão neoliberal busca reduzir custos a qualquer preço.
Outro ponto abordado por Wagner Vieira foi a urgente democratização das universidades brasileiras. Ele destacou que, no século XXI, é inaceitável que trabalhadores técnico-administrativos em educação ainda sejam invisibilizados e não tenham participação formal nos espaços de decisão. “A ausência de representação dos trabalhadores e estudantes nos conselhos de gestão universitária contribui para a divisão entre o ‘fazer’ e o ‘pensar’, limitando a interação entre gestão, ensino, pesquisa e extensão e restringindo o potencial das universidades em resolver problemas sociais e econômicos históricos”, afirmou Wagner.
O debate remeteu também à necessidade de promover uma verdadeira reforma democrática nas instituições de ensino superior, inspirada pelo movimento da Reforma Universitária de Córdoba, na Argentina, em 1918. Segundo os participantes, democratizar as universidades é um passo fundamental para construir uma sociedade mais justa, especialmente em países com economias dependentes como o Brasil. Essa transformação exigirá uma ampla mobilização de setores democráticos da comunidade universitária, além do apoio de movimentos sociais.
Por fim, os palestrantes discutiram a organização e a mobilização dos trabalhadores para garantir a manutenção de seus direitos e, ao mesmo tempo, pressionar o governo federal. Apesar de reconhecerem a amplitude política do governo Lula, os participantes expressaram críticas às políticas fiscais de austeridade adotadas, em especial o chamado “arcabouço fiscal” e o pacote econômico do ministro Fernando Haddad. Esse conjunto de políticas, segundo os líderes sindicais, tem impactado negativamente a classe trabalhadora e contribuído para o aumento do apoio à extrema direita, fenômeno observado nas recentes eleições municipais.
O Congresso contra o Neoliberalismo na Educação concluiu que uma gestão democrática nas universidades e a defesa dos direitos dos trabalhadores são essenciais para um ensino superior que efetivamente contribua para o desenvolvimento social e econômico do Brasil.