“O respeito ao voto popular tem que estar no centro da pauta daqueles e daquelas que defendem a democracia”. A fala é de Marcelo Carlini, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça Federal (Sintrajufe/RS) e da CUT/RS, presente no auditório Suze Scalcon da Sedufsm na última quinta-feira, 22 de setembro, para participar da roda de conversa “Por democracia e direitos sociais: O respeito ao voto popular”. Promovida pelo grupo Práxis, a atividade também trouxe como palestrante a professora do departamento de Direito da UFSM, Bia Oliveira. A abertura cultural ficou por conta de Gisele Guimarães e Maninho Pinheiro, que interpretaram duas músicas do repertório da resistência popular.
O foco da discussão foram as constantes ameaças do governo Bolsonaro e de seus apoiadores ao sistema eleitoral brasileiro e, consequentemente, à legitimidade do voto popular. Recentemente, por exemplo, o presidente disse que, se não vencer a eleição com mais de 60% dos votos, “algo de anormal” teria acontecido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Carlini refletiu sobre a não importância que alguns setores do campo progressista dão a essas ameaças golpistas de Bolsonaro, minimizando-as ao apostar na não efetivação das investidas autoritárias.
“Como ter certeza de que Bolsonaro não fará o que promete? O crime de motivação política está no coração do bolsonarismo”, argumenta o diretor sindical. Para ele, também é necessário questionar que tipo de democracia vem imperando no Brasil, um país cujo governante máximo acumula milhares de mortes “nas costas” devido à sua negligência com as políticas de combate à Covid-19 e até hoje não foi responsabilizado. Um país no qual o mesmo governante é alvo de mais de 150 pedidos de impeachment, arquivados e silenciados na Câmara dos Deputados.
“Não faltam provas para responsabilizar Bolsonaro pela tragédia do país. Em Porto Alegre, não há uma esquina em que não tenha gente pedindo dinheiro ou comida”, diz Carlini, referindo-se à dupla tragédia de assolou o Brasil: a pandemia e a miséria.
Apesar desse cenário aterrador descortinado em 2019, quando Bolsonaro assumiu a Presidência, o diretor do Sintrajufe pondera que a mudança está próxima.
“Apesar das fake News, do orçamento secreto e das medidas eleitoreiras, ainda assim o povo pode colocar fim ao governo Bolsonaro daqui a 10 dias [referindo-se ao dia 2 de outubro, data do primeiro turno]. Isso só já um exemplo da nossa força”, concluiu.
Rompendo com o ritmo de espera
Dando sequência à intervenção de Carlini, a professora Bia Oliveira, por ser da área do Direito, focou sua contribuição no papel que os instrumentos jurídicos jogam na luta de classes. Para a docente, o campo da esquerda ainda nutre ilusões com relação ao aparato jurídico e à democracia representativa. Embora ambos sejam elementos importantes de serem defendidos frente aos arroubos autoritários da extrema direita, não se pode esquecer, pontua Bia, que tanto o Estado quanto o Direito são instrumentos reguladores criados pelo próprio capitalismo.
Assim, centrar toda a resistência e luta política em tais instrumentos é limitá-las e se furtar a construir novas possibilidades de mobilização. Ainda que seja fundamental defender o voto popular, não há de se depositar toda a esperança nas urnas, ressalta Bia, para quem há, hoje, dois sentimentos pairando sobre a população brasileira: a apatia política e um ritmo de espera pelas eleições.
“Temos que construir pontes democráticas que vão para além da democracia representativa. Por mais que a gente discuta, ainda não temos a dimensão dos retrocessos [promovidos pelo governo Bolsonaro]. Vai demorar para conhecermos o tamanho do estrago. O que nos espera é um projeto de reconstrução nacional”, projeta a docente.
Esse foi o terceiro evento promovido pelo grupo Práxis na UFSM. A primeira atividade ocorreu no dia 30 de junho, com a presença do professor de Filosofia da UFG, Adriano Correia. A segunda foi no dia 2 de agosto, com o professor Hernán Ramírez, do programa de pós-graduação em História da Unisinos.
O Práxis é composto por docentes, estudantes e técnico administrativos(as) em educação de universidades de todo o país, que se unem para propor discussões acerca de temas centrais ao cotidiano da universidade, tais como democracia, autonomia e direitos sociais. Em Santa Maria, o Práxis é formado por Sedufsm, Assufsm, Atens, Sinasefe, DCE e APG.
Texto e fotos: Bruna Homrich/Assessoria de Imprensa da Sedufsm