Todas as formas de violência contra a mulher aumentaram em 2022, revela pesquisa

Mais uma vez em que todo o tipo de violência contra as brasileiras alcança níveis alarmantes no país, e revela que mais da metade das mulheres têm medo de contar para alguém a violência sofrida. É o que mostra Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em uma nova edição da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil. O levantamento permite estimar que cerca de 18,6 milhões de mulheres brasileiras foram vítimas em 2022.

A pesquisa traz dados inéditos sobre diferentes formas de violência física, sexual e psicológica sofridas pelas brasileiras no ano passado. Em média, as mulheres que foram vítimas de violência relataram ter sofrido quatro agressões ao longo do ano, mas entre as divorciadas a média foi de nove vezes.

“As mulheres estão sofrendo cada vez mais violência. Há aumento de 4 pontos percentuais sobre as mulheres que sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano, comparado com a pesquisa anterior. Esse é um dado que choca bastante”, lamenta a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Amanda Lagreca.

Dados revelam crescimento alarmante de todos os tipos de violência contra a mulher. Infográfico: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

A pesquisa ouviu 2.017 pessoas, entre homens e mulheres, em 126 municípios brasileiros, no período de 9 a 13 de janeiro de 2023, e foi realizada pelo Instituto Datafolha, com apoio da Uber.

Segundo o levantamento, 28,9% das brasileiras sofreram algum tipo de violência de gênero em 2022, o maior índice da série histórica, 4,5 pontos percentuais acima do resultado da pesquisa anterior.

Os resultados da pesquisa mostraram que 11,6% das mulheres entrevistadas foram vítimas de violência física no ano passado, o que representa um universo de cerca de 7,4 milhões de brasileiras. Isso significa que 14 mulheres foram agredidas com tapas, socos e pontapés por minuto.

Entre as outras formas de violência citadas, as mais frequentes foram:

  • Ofensas verbais (23,1%)
  • Perseguição (13,5%)
  • Ameaças de violências físicas (12,4%)
  • Ofensas sexuais (9%)
  • Espancamento ou tentativa de estrangulamento (5,4%)
  • Ameaça com faca ou arma de fogo (5,1%)
  • Lesão provocada por algum objeto que foi atirado nelas (4,2%)
  • Esfaqueamento ou tiro (1,6%).

Dados preocupantes sobre o crescimento histórico de todos os tipos de violência contra a mulher. Infográfico: Fórum Brasileiro de Segurança

A pesquisa apresentou um dado inédito: uma em cada três brasileiras com mais de 16 anos sofreu violência física e sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida. São mais de 21,5 milhões de mulheres vítimas de violência física ou sexual por parte de ex-companheiros ou parceiros íntimos, representando 33,4% da população feminina do país.

Os dados de feminicídios e homicídios dolosos de mulheres do ano de 2022 ainda não estão disponíveis, mas o crescimento agudo de formas graves de violência física, que podem resultar em morte a qualquer momento, é um sinal, diz a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

“Não será surpresa se nos depararmos com o crescimento de ambas as modalidades de violência letal contra as mulheres. Infelizmente, o Brasil ficou mais inseguro para todas nós.”

Foto: Roberto Setton/Mídia Ninja

Se considerado os casos de violência psicológica, 43% das mulheres brasileiras já foram vítimas do parceiro íntimo. Mulheres negras, de baixa escolaridade, com filhos e divorciadas são as principais vítimas, revelou a pesquisa.

“Quando a gente olha esse dado de 33,4%, comparado com média global da Organização Mundial da Saúde, de 27%, o que estamos vendo é que no Brasil esse número é mais elevado do que o número estimado pela OMS”, lamenta Amanda Lagreca.

Para a pesquisadora, outro dado chocante é com relação ao autor da violência. Pela primeira vez, o estudo apontou o ex-companheiro como o principal autor da violência (31,3%), seguido pelo atual parceiro íntimo (26,7%).

Infográfico: Fórum Brasileiro de Segurança

O autor da violência é conhecido da vítima na maior parte dos casos (73,7%). O que mostra que o lugar menos seguro para as mulheres é a própria casa – 53,8% relataram que o episódio mais grave de agressão dos últimos 12 meses aconteceu dentro de casa. Esse número é maior do que o registrado na edição de 2021 da pesquisa (48,8%), que abrangeu o auge do isolamento social durante a pandemia de covid-19.

Outros lugares onde houve episódio de violência foram a rua (17,6%), o ambiente de trabalho (4,7%) e os bares ou baladas (3,7%). Sobre a reação à violência, a maioria (45%) das mulheres disse que não fez nada. Em pesquisas anteriores, em 2017 e 2019, esse número foi de 52%.

O número de vítimas que foi até uma Delegacia da Mulher aumentou em relação a 2021, passando de 11,8% para 14% em 2022. Outras formas de denúncia foram: ligar para a Polícia Militar (4,8%), fazer um registro eletrônico (1,7%) ou entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher pelo Disque 180 (1,6%).

Assédio sexual

Foto: Letícia Sabbatini / Mídia NINJA

A pesquisa mostrou que 46,7% das brasileiras sofreram assédio sexual em 2022, um crescimento de quase 9 pontos percentuais em relação a 2021, quando a prevalência de assédio foi de 37,9%.

Com a pesquisa, pode-se estimar que 30 milhões de mulheres que relataram ter sofrido algum tipo de assédio; 26,3 milhões de mulheres ouviram cantadas e comentários desrespeitosos na rua (41,0%) ou no ambiente de trabalho (18,6% – 11,9 milhões), foram assediadas fisicamente no transporte público (12,8%) ou abordadas de maneira agressiva em uma festa (11,2%).

Reportagem: Midia NINJA

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