O Encontro Nacional contra o Assédio Moral, Sexual e em Defesa da Saúde Mental dos(as) Trabalhadores(as) das Instituições Federais e Estaduais de Educação ocorreu nos dias 26 e 27 de setembro, no auditório do Centro de Engenharias da Universidade de Brasília (UnB), em Brasília. O evento reúne dirigentes sindicais, pesquisadores e trabalhadores para discutir estratégias de enfrentamento às violências nas instituições de ensino.
A mesa de abertura contou com as coordenadoras gerais Ivanilda Reis, Loiva Chansis e Rosângela Costa (em substituição a Cristina del Papa) e dos coordenadores de Políticas Sociais e Gênero, Maristela Cabral e Fernando Borges.
Em sua fala, Loiva Chansis destacou a necessidade de enfrentar o assédio dentro de uma realidade já marcada por opressões. “Devemos vivenciar, refletir e tratar uns aos outros com respeito. Democracia se constrói também no debate, e esse encontro deve nos atualizar e nos fortalecer nesta questão tão séria”, afirmou.
Ivanilda Reis trouxe a perspectiva das mulheres negras no espaço sindical. “É um espaço muito difícil para nós, mas precisamos unificar nossas lutas para garantir um ambiente saudável. Não queremos adoecer por causa da militância. Acreditamos na importância do sindicalismo e vamos sair daqui fortalecidas para dar resposta a essa perversa realidade”, declarou.
Rosângela Costa enfatizou o caráter formativo da atividade: “Nosso papel é recepcionar, ouvir e construir coletivamente. Negras, negros, indígenas e populações historicamente marginalizadas são as que mais sofrem. É com esse compromisso que seguimos lutando pela construção de um país democrático, digno e soberano.”
Pela Assufsm participaram as representantes: Jiele Silva, Glaucia Tassinari, Clenir Lopes. Loiva Chansis, base da Assufsm, é a atual Coordenadora Geral da FASUBRA.
O setor de Comunicação da Assufsm conversou com as representantes, após o Encontro, e elas puderam dar seus relatos sobre esse momento proporcionado pela FASUBRA, que foi de muita reflexão e de pensar sobre o assédio moral e sexual dentro do movimento sindical.
“Nós tivemos palestras com psicólogos que abordaram as consequências do assédio moral na saúde mental do servidor e da servidora e os desdobramentos na produtividade no ambiente organizacional. Também trouxeram alguns dos transtornos mentais que vão se desenvolvendo nos servidores e servidoras que sofrem assédio moral e sexual. Tivemos mais debates ao longo dos dois dias e encaminhamentos que foram levados para avaliação na FASUBRA. Para mim, esse encontro foi de fundamental importância, para que a gente possa refletir sobre as nossas práticas cotidianas, as pequenas violências que são cometidas, que são praticadas pelas instituições, mas também dentro do movimento sindical”, afirma Glaucia.
Para a TAE Jiele, o respeito é fundamental no ambiente de trabalho.
“Não podemos normalizar assédio moral ou racismo dentro de uma universidade federal e necessitamos do envolvimento de três segmentos da instituição, psicologia, assistentes sociais e técnicos em segurança do trabalho e principalmente da gestão para que tenhamos um ambiente de trabalho onde o respeito a empatia façam parte da vida laboral dos servidores(as) para que juntos possamos construir a universidade acolhedora que queremos enquanto sindicalistas”, enfatiza ela.
Por fim, a TAE Clenir também deixou seu depoimento sobre o encontro.
“É uma grande honra participar desse Encontro Nacional contra o Assédio Moral e Sexual, um espaço tão importante de resistência, diálogo e construção coletiva. Estar aqui significa reafirmar que não aceitamos mais silenciamentos nem prática de violência que atinge trabalhadores e trabalhadoras dentro dos nossos locais de trabalho, nas universidades e na sociedade. O assédio, seja moral ou sexual, destrói a saúde, a dignidade e a vida de quem sofre, mas também corrói as instituições, fragiliza as relações e alimenta uma cultura de medo e desigualdade. Por isso, precisamos enfrentá-la com coragem, organização e unidade. Eu venho de Santa Maria trazendo a voz e a força da nossa base”, finaliza Clenir.
Palestras 26 de setembro
Na programação da manhã (26), Olívia Tavares analisou como o assédio moral pode se enraizar na cultura das instituições de ensino, mesmo diante de políticas e cursos de prevenção. “Não é um desvio individual, mas algo tramado na própria cultura institucional, que normaliza práticas de humilhação, discriminação e exclusão”, explicou.
Meyriellem Pereira Valentim, especialista em saúde do trabalhador, apontou que o assédio moral frequentemente se estrutura como prática de gestão. “Expor trabalhadores a situações de humilhação virou, em muitos casos, uma forma de gestão. É tão sutil e perverso que muitas vezes o grupo inteiro naturaliza e concorda”, afirmou.
Meyriellem ainda destacou que práticas de racismo, intolerância religiosa e discriminação de gênero estão diretamente ligadas ao fenômeno. Para ela, a saída é coletiva: “É preciso dar visibilidade, denunciar, e os sindicatos têm papel central nisso.”
Após as apresentações das convidadas, foi aberto espaço para que as pessoas presentes no plenário pudessem tirar dúvidas ou apresentar questões para o debate.
A mesa foi coordenada por Maristela Cabral e Fernando Borges.
A segunda mesa do Encontro Nacional de Políticas Sociais: Contra o Assédio Moral, Sexual e Saúde Mental, na sexta-feira (26), destacou os impactos do assédio nas relações de trabalho e seus reflexos diretos na saúde mental dos servidores.
A mesa foi mediada pela Coordenação de Políticas Sociais e contou com a participação dos palestrantes Bianca Zupirolli e Nelson Aleixo.
Bianca Zupirolli apresentou um panorama sobre os principais sintomas físicos e emocionais que podem evoluir para transtornos mentais. “O assédio é um caminho direto para o adoecimento do(a) trabalhador(a), comprometendo a dignidade do indivíduo e a produtividade das Instituições. Os principais transtornos observados no servidores públicos são burnout, depressão e ansiedade.
É fundamental que os sinais sejam percebidos a tempo”, destacou.
Bianca relatou experiências vividas em sua prática profissional e citou sintomas recorrentes, como alterações de peso, irritabilidade, lapsos de memória, isolamento social e insônia.
Segundo ela, o estresse crônico — silencioso e prolongado — é o mais perigoso e mais difícil de ser percebido. “No serviço público, esse quadro leva muitos trabalhadores a pedirem transferência ou remoção, transformando as Instituições de Ensino em local de passagem para outros concursos, perdendo muitos talentos”, completou.
Nelson Aleixo da Silva Júnior aprofundou a discussão sobre assédio moral, chamando atenção para a naturalização dessa prática. “Muitas vezes começa como uma brincadeira e, quando menos se percebe, já virou prática de humilhação. A imposição de metas impossíveis também é assédio moral, pois destrói a criatividade e gera ansiedade”, afirmou.
Aleixo apresentou ainda dados de pesquisas que associam o assédio moral a sintomas como baixa autoestima, depressão, ideação suicida e até estresse pós-traumático. Para ele, o enfrentamento deve ser coletivo: “O assédio retira do(a) trabalhador(a) não apenas sua tranquilidade, mas também sua honra e dignidade. Trata-se de uma prática cultural que precisa ser enfrentada.”
Após as exposições, o debate foi aberto para as pessoas presentes no encontro.
Nos encaminhamentos finais, Bianca Zupirolli reforçou a importância do acolhimento, da escuta e do acompanhamento psicológico como estratégias para impedir que o servidor permaneça isolado diante do sofrimento.